terça-feira, 16 de novembro de 2010

Justiça social e evangelização (II)

Entrevista com o cardeal Peter Turkson

ST. PAUL, segunda-feira, 15 de novembro de 2010 (ZENIT.org) - A doutrina social da Igreja não é somente uma fonte de princípios sobre os quais se constrói uma sociedade boa e justa, senão que tem também um sentido de evangelização.
Esta é a mensagem do cardeal Peter Turkson, presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz. Citando o relato bíblico de Zaqueu, ele acredita que as verdades sobre a tradição social da Igreja supõem uma preparação para a graça e convidam ao encontro com o Senhor.
O cardeal Turkson trabalhou como chanceler da Catholic University College de Gana. Participou de uma série de comissões, conselhos e comitês pontifícios, e o Papa Bento XVI o nomeou presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz em outubro de 2009.
Recentemente, esteve em St. Paul (Minnesota, Estados Unidos), visitando a Universidade St. Thomas, onde deu a conferência anual Habiger, patrocinada pelo Center for Catholic Studies. A conferência era sobre Caritas in Veritate: Good News for Society (Caritas in veritate: boa notícia para a sociedade).
Nesta entrevista, o purpurado fala sobre os primeiros frutos da Caritas in Veritate, assim como sobre a necessidade de que a Santa Sé continue sendo a "voz da consciência" na ONU.
A primeira parte desta entrevista foi publicada ontem.
ZENIT: Que efeito está tendo a doutrina social da Igreja nos homens de negócios e na sociedade?
Cardeal Turkson: As pessoas estão interessadas na tradição da Igreja. Muitos descobriram o lugar de Deus em Cristo, mostrando que a doutrina social da Igreja é uma ferramenta da evangelização.
Por exemplo, no relato evangélico de Zaqueu, ele era um cobrador de impostos. Estava se enriquecendo às custas dos outros. Mas quando conheceu Jesus, experimentou uma transformação. E disse: "Se defraudei alguém, eu lhe devolverei o dinheiro".
Como é possível que, antes de conhecer Jesus, ele não percebera que o que estava fazendo era enganar as pessoas?
A história de Zaqueu mostra que, quando se tem um determinado encontro com o Senhor, há uma transformação em nós.
Da mesma forma, as pessoas podem precisar dessa experiência do Senhor. Devem perceber que não se pode continuar como de costume. Não se pode pisotear outro ser humano.
Ao contrário, as empresas devem levar ao desenvolvimento integral da pessoa humana. A busca do progresso humano não pode ser alheio ao caráter comunitário da pessoa humana.
A encíclica Caritas in veritate afirma que o desenvolvimento humano deve ser integral e completo. Ela nos convida a redescobrir o desenvolvimento humano e o progresso humano.
ZENIT: A Igreja precisa voltar a um tomismo mais rigoroso em seu enfoque das questões sociais atuais, como foi nas primeiras encíclicas sobre o tema?
Cardeal Turkson: Permita-me expor dessa forma: a este Papa, em particular, é atribuída a formulação de uma hermenêutica da continuidade. Essa hermenêutica não se aplica somente à questão do Concílio Vaticano II e aos concílios ecumênicos anteriores, mas também à continuidade entre a doutrina social pontifícia recente e a dos papas anteriores.
Naturalmente, a mudança de contexto requer que a ênfase seja dada de outra forma. Às vezes, a formulação de certas questões é enquadrada de maneira diferente. Mas existe uma continuidade real.
Quando este Papa fala sobre tradição, ele se refere a tudo o que falamos no passado.
Não foi o tomismo, em última instância, o que proporcionou o ponto de partida para os ensinamentos sociais da Igreja, mas a própria Escritura. O tomismo era uma maneira de articular os princípios que se encontram na Bíblia.
Não sei se devemos voltar a Tomás para uma formulação clara.
É provável que certa tradição dentro da Igreja - por meio de catecismos, com suas perguntas e respostas - tenha criado uma aproximação particular sobre as questões. Às vezes, o tomismo é útil neste contexto.
Mas não deve excluir o desejo de ser discursivo sobre os problemas. E essa nova encíclica nos conduz a isso.
As encíclicas estão escritas para todas as pessoas de boa vontade. Com este propósito em mente, necessariamente não se pode apresentar os ensinamentos como um tipo de catequese, de forma tomista.
O estilo discursivo não se move longe do tomismo, mas enriquece a tradição.
Está destinado a um público mais amplo, ao qual as encíclicas se dirigem. Isso representa o abandono de um formato claro e tomista.
ZENIT: Na sociedade de hoje, poderia ser útil uma redescoberta da ideia, atualmente esquecida, do reinado social de Cristo, seu senhorio sobre todas as coisas, incluindo o âmbito político e econômico?
Cardeal Turkson: O Santo Padre disse que a verdade da razão e a verdade da fé não se opõem. Mas a verdade da razão é convidada à transcendência.
As coisas da verdade da razão não são um ponto final, de chegada. A verdade da fé deve transcender a verdade da razão.
A lei natural, em si, é uma preparação para a ordem da graça.
Temos de reconhecer a vocação da razão como ordenada à transcendência, à figura de Jesus como Deus encarnado.
Quando é este o caso, podemos nos referir ao que a recente encíclica diz sobre isso.
O livro único da natureza mostra Deus como o autor da sua criação, mas também de tudo o que pertence a ela.
Portanto, é o Senhor de todas as coisas, incluindo as relações da pessoa humana.
Existe uma tendência no mundo a conceber a pessoa humana como autora de si mesma ou configurada pela cultura e pelas forças externas.
Esta é uma tentativa de substituir Deus e acabar com Ele. Em vista disso, os Papas João Paulo II e Bento XVI nos recordam que, sem transcendência, a vida não tem sentido e não pode alcançar seus próprios objetivos.
A necessidade da realeza de Jesus é precisamente porque é a revelação do Pai. É necessário apresentar a vocação da razão como uma vocação à transcendência.
Trata-se de uma verdade revelada por Cristo e em Cristo.
Assim, a lei natural não é um ponto de chegada, mas cada pessoa é convidada à transcendência para descobrir-se na finalidade da verdade de Jesus, a descobrir o plano do Pai na verdade da criação.
Esse convite à transcendência se converte no objeto da missão evangelizadora da Igreja. Falamos da verdade da razão, mas não nos detemos aí.
É preciso descobrir a si mesma em Jesus como a revelação do Pai.
ZENIT: Quando o senhor fala a organismos como as Nações Unidas, como fez em setembro sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, e os exorta a defender e construir em suas atividades uma cultura da vida, parece que esta mensagem está chegando?
Cardeal Turkson: Penso que existe um monte de coisas por descobrir sobre como as Nações Unidas trabalham.
Supõe-se que as Nações Unidas em si são uma reunião dos Estados soberanos, que os chefes das nações soberanas se unem. Os especialistas da ONU facilitam estas reuniões, mas precisamente este serviço põe em perigo a reunião e permite que seja sequestrada por pessoas com uma agenda. Sempre devemos reconhecer este risco.
O financiamento da ONU vem dos chefes de Estado soberanos. Mas o financiamento pode vir também com exigências ou condições. Temos de reconhecer tudo isso.
Por isso, quando os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio são debatidos, é provável que algumas pessoas que estão financiando e conduzem o debate tenham sua própria agenda de interesses.
A voz da Santa Sé tem o valor de servir como um recordatório de certos temas que em geral não são discutidos.
Inclusive se a posição da Santa Sé não é aprovada, serve como uma lembrança aos países sobre estes temas e valores, a importância de proteger a vida e a dignidade humanas.
Mesmo se formos a única voz na sala, é necessário.
Muitas pessoas ainda nos parabeniza por discutir certos temas.
As atividades da Santa Sé também podem abrir espaço para outras discussões sobre por que alguns Estados estão debatendo sobre certos temas, ou se podem conduzir a uma perda de financiamento para os demais.
Por exemplo, antes da visita do Papa a Londres, alguém perguntou sobre o desenvolvimento em outros países, se a saúde reprodutiva estaria conectada diretamente a todas as ajudas. Isso significaria que toda ajuda que sai teria isso como condição para o financiamento. Isso foi algo que pôde ser discutido graças à presença da Igreja na ONU.
Todos estes detalhes precisam ser reconhecidos quando falamos sobre a participação na ONU.
Devemos fazer que a verdade da Igreja seja conhecida, independentemente do grau de adesão que possa obter.
(Jason Adkins)

Justiça social e evangelização (I)

Entrevista com o cardeal Peter Turkson

ST. PAUL, domingo, 14 de novembro de 2010 (ZENIT.org) - O desafio de servir como a voz de Bento XVI em questões de justiça e paz deve ser muito pesado. Requer a aplicação de princípios testados pelo tempo a uma vasta quantidade de temas em muitas situações geográficas, políticas e culturais diferentes.
Atento às dificuldades de comunicação, de acordo com o contexto e a cultura de cada região, o novo chefe do Conselho Pontifício Justiça e Paz afirma que temos de nos esforçar para entender os termos difíceis e as ideias desde o ponto de vista de quem fala. Em outras palavras: temos de perguntar-nos o que a pessoa que fala tenta comunicar a sua audiência particular.
Adotando este ponto de partida, é possível promover uma profunda experiência de aprendizado pessoal, acredita o cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz, nomeado em outubro de 2009 por Bento XVI.
O cardeal Turkson, de 62 anos, nasceu em Nsuta Wassaw (Gana), e é arcebispo emérito de Cape Coast, capital do país. Freqüentou o seminário St. Anthony-on-Hudson de Nova Iorque e, depois, estudou no Pontifício Instituto Bíblico de Roma, onde completou o doutorado em Sagrada Escritura.
Ordenado em 1975, foi nomeado arcebispo de Cape Coast, em 1992, e cardeal, por João Paulo II, em 2003.
Numa recente viagem a Minnesota (EUA), o cardeal Turkson concedeu uma entrevista a ZENIT, na qual tratou, entre outros assuntos, das dificuldades na compreensão e aplicação da doutrina social da Igreja, da importância da solidariedade e do trabalho da Santa Sé, na ONU .
ZENIT: Como cabeça do Conselho Pontifício Justiça e Paz o senhor tem que estar familiarizado com várias questões diferentes, desde economia até meio ambiente. Quais são suas principais fontes de inspiração para enfrentar esta tarefa?
Cardenal Turkson: Existem, basicamente, três influências. A primeira é o próprio Papa Bento XVI. Ele é, naturalmente, a razão da minha presença em Roma.
Eu mesmo perguntei ao Papa quais são seus objetivos para o Conselho porque a natureza do meu trabalho é apoiar sua visão.
A segunda fonte de inspiração é meu trabalho como pastor. Antes de vir a Roma, eu era pastor. Minhas experiências pastorais são uma referência e uma fonte particularmente rica pra meu trabalho.
Cheguei aqui com muitos sentimentos de pastor. Tenho de ser criativo, inovador e mostrar iniciativa em todas as situações que possa atravessar.
A terceira é minha própria formação nas Escrituras. Afinal, tudo o que se relaciona com nossa fé em ação nasce, em última análise, na Escritura.
Eu não fui um aluno muito brilhante em doutrina social da Igreja - não fiz nenhum estudo acadêmico sobre este tema, somente o que era necessário para meu trabalho como pastor. Por isso, um grande apoio para meu trabalho é a base bíblica de tudo o que acontece.
ZENIT: Qual é a visão de Bento XVI sobre o Conselho Justiça e Paz?
Cardenal Turkson: Minha nomeação foi depois do sínodo sobre a África.
No sínodo, o Santo Padre disse que em nosso trabalho devíamos distinguir entre ação pastoral e ação política. Tudo o que fazemos deve estar alinhado com a ação pastoral.
As soluções políticas possíveis, devem estar de acordo com nossa compreensão da Igreja como família de Deus.
Quem conhece alguma coisa da vida de um bispo u sacerdote num país de missão sabe que não se trata somente de ser um pastor ou administrador; pelo contrário, é um "faz tudo": é arquiteto, economista, projetista...
Isto significa que como pastores temos que desenvolver um agudo sentido de inovação, criatividade e iniciativa. Nosso trabalho no Conselho deve ser igual.
O Conselho Pontifício Justiça e Paz é um departamento entre outros muitos no Vaticano e por isso deve alinhar-se ao Papa. Temos que falar como o faria o Papa quando se representa o Papa.
ZENIT: Nos Estados Unidos existe muita confusão com o termo "justiça social". Algumas pessoas atuam como se se tratasse de uma virtude ou de um humanitarismo enquanto outros acreditam que o termo deveria ser abandonado por ter sido distorcido e utilizado por ativistas políticos de esquerda. Poderia esclarecer essa confusão e definir exatamente o que significa a justiça social?
Cardenal Turkson: No fundo, a justiça social é uma função da própria fé e da doutrina da Igreja.
Um grupo de investigadores dos Estados Unidos veio recentemente a Roma visitar-nos e falar sobre a recente encíclica.
Ficou evidente na discussão sobre o tema que certos termos, como solidariedade, não são valorizados pelos americanos e são de difícil tradução.
Mas aprendemos com a discussão. É sempre bom ter em conta o ponto de vista dos demais.
Temos de entender o ponto de vista do autor e o que o autor expõe. Certos termos ou conceitos só podem ser apreciados quando vistos desde este ponto de vista.
Com o termo justiça social temos de analisá-lo dessa forma. Em primeiro lugar, examinemos o termo justiça, por separado, e só depois acrescentar o adjetivo social e ver onde nos leva. Considero útil para que possamos ter um ideia correta da própria expressão.
A justiça pode ser considerada como a necessidade de respeitar as exigências de qualquer relação. Quando respeito estas relações, posso estar seguro de ser justo. Isto é certo com respeito à relação entre Deus e eu e é certo sobre a relação marido e mulher, estudante e professor, proprietário e trabalhador.
As exigências de qualquer relação, quando se espera entre as partes, constituem a justiça. Se nos referimos a ela como social, significa somente que vemos um conjunto de relações e expectativas entre os membros da sociedade. Por tanto, isto não é conservador nem liberal.
Vamos considerar as exigências de certas relações nas quais estamos envolvidos, quer dizer, na causa da justiça.
Temos de tomar cuidado de não ser demasiado teóricos. Existe uma relação entre o legislador e o cidadão, entre chefes e trabalhadores que deve ser respeitada.
A justiça social não diz respeito à distribuição ou com fazer que as pessoas das classes mais altas da sociedade ajudem as de classe mais baixa.
O ponto de partida é reconhecer o sentido de justiça nas relações e guiar-se por ele. Quando nos deixamos guiar por ele, nos ajuda a eliminar algumas das dificuldades na compreensão do termo. Devemos compreender a justiça social em termos de relações.
ZENIT: Também nos Estados Unidos existe muita polarização na forma como os católicos politicamente ativos interpretam e aplicam a doutrina social da Igreja. Por exemplo: alguns acreditam que praticamente todos os problemas sociais devem ser resolvidos pessoalmente, por organizações ou atores não governamentais enquanto outros pensam que é dever do Estado. Assegurar que todos os cidadãos tenham acesso aos serviços básicos de saúde é só um exemplo. O que acha desta polarização?
Cardenal Turkson: Poderia existir um desencontro entre o ensinamento do Papa e a realidade da situação particular nos Estados Unidos.
Não estou seguro de que o debate sobre a saúde seja uma tentativa de colocar em prática o pensamento do Papa com relação à justiça social.
A situação provavelmente possa estar relacionada com os dois campos políticos dentro daquele país. Não estou seguro de que o debate sobre a saúde seja uma tentativa de por em prática o pensamento do Papa nesse sentido.
A situação provavelmente possa estar relacionada com os dois campos políticos dentro deste país. Em todo caso, teria sua própria dinâmica.
Se pensamos no caráter comunitário do ensinamento do Santo Padre, este se baseia na antropologia cristã da pessoa. A pessoa é criada para ser parte de uma família. A família é o ponto de partida da compreensão do Papa sobre a pessoa humana.
As pessoas pertencem a uma família. A fraternidade é um conceito que não se entende bem aqui.
Sendo membros de uma família, todos somos irmãos e irmãs no caminho. É este o ponto de partida comunitária. Podemos perseguir iniciativas individuais, mas o ponto de partida original significa que devemos ser conscientes de não deixar um irmão ou irmã para trás. A lógica do dom do Santo Padre se aplica aqui.
Não deixamos um irmão ou irmã para trás porque reconhecemos o que a pessoa é: um ser criado à imagem e semelhança de Deus. Nossa solidariedade com eles é uma expressão do amor de Deus Pai por cada um de nós.
A pessoa deve imitar o amor de Deus pelos demais. Devemos converter-nos em amor ou em dom para outras pessoas.
Significa que a pessoa humana deve pertencer a uma família. A solidariedade é um ponto básico de partida: a irmandade dos homens sob a paternidade de Deus.
Não estou convencido de que a discussão política na sociedade americana tenha o mesmo ponto de partida.
Portanto, fazer da compreensão da pessoa humana e da necessidade da solidariedade o ponto de partida se converte numa missão. Devemos usar a doutrina social da igreja como meio de evangelização. Temos de compartilhar isto com os não cristãos.
Qualquer legislação que se adote deve ser uma expressão de solidariedade, uma expressão da natureza do amor de Deus e a gratidão com que Deus nos ama e se ocupa de nós.
(Jason Adkins)

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Palavras do Papa


Neste sentido, convidou os jovens a descobrir "a beleza, o valor e o compromisso do matrimônio, no qual um homem e uma mulher formam uma família que, com generosidade, acolhe a vida e a acompanha desde sua concepção até seu término natural".

"Tudo o que se faz para apoiar o matrimônio e a família, para ajudar as pessoas mais necessitadas, tudo o que aumenta a grandeza do homem e sua dignidade inviolável contribui para o aperfeiçoamento da sociedade. Nenhum esforço é feito em vão, neste sentido", concluiu.

disponivel em: http://www.zenit.org/article-26502?l=portuguese
Paz e Bem

Shalom!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O CLJ me enganou!

Otimo texto retirado do seguinte link:

http://uzina.wordpress.com/2008/08/10/eu-fui-enganado-no-clj/

 
Eu era um guri verde com os meus quatorze anos. Dentro da minha jaqueta parcá bege, da minha segunda ou terceira calça jeans e atrás da armação dos óculos, eu era um guri verde. E por ser assim, acho que exatamente por ser assim, fui enganado. Ludibriado pelo CLJ durante longos seis ou sete anos da minha vida.
E vou explicar isso pra vocês.

Para quem não o conhece, a sigla quer dizer Curso de Liderança Juvenil. É um movimento de jovens da Igreja Católica do qual participei durante uma longa e marcante fase da juventude.  Já desconfiava faz tempo de toda essa farsa. E a confirmação de tudo começou há algumas semanas. Quando conheci de perto e passei a admirar o trabalho do Movimento Cultural Canta Brasil.
A Jac, amiga minha e colega de trabalho, e eu fomos visitar, em Canoas, o Instituto Movimento Cultural Canta Brasil, no bairro Mathias Velho. O Canta Brasil é uma ONG nascida na periferia da cidade e obcecada em usar a arte para mudar a vida das pessoas. Isso desde cedo. Desde a infância e adolescência. Na Casa Azul, que tem esse nome porque é uma casa e porque é azul, jovens dos bairros Mathias Velho, Guajuviras e Harmonia, todos de Canoas, recebem aula de dança e de música nos horários em que não estão estudando. Mas as aulas não formam dançarinos, nem formam cantores.

Sabem que muitas vezes eu pensei em não ir mais? Eu, um guri verde, sendo iniciado em um grupo de jovens, com mais de cem desses jovens, com a triste impressão de que acabaria perdendo a minha liberdade de sábados à tarde em troca de horas e horas de oração, de palestras, de exposição a pessoas novas e de oração de novo. Mas precisou de muito pouco tempo para que o Juliano daquele tempo mudasse de idéia, descobrisse que não rezaria demais, nem estudaria tanto assim – embora, mais tarde, eu fosse lamentar a falta de tempo para fazer mais das duas coisas. Demorou pouco tempo para eu pegar gosto por aquela gente, por aquele grupo.

O Canta Brasil tem uma estrutura de trabalho que dá mostras da seriedade com que a coisa é feita. Num primeiro momento, durante variadas oficinas artísticas aplicadas com centenas de crianças e jovens de oito escolas de três bairros, a coordenação, acompanhada por consultores profissionais remunerados, começa a identificar talentos e lideranças em ruelas e casebres onde a lógica, em muitos casos, só daria abrigo a famílias desestruturadas, crianças traumatizadas, adolescentes traficantes e jovens prostituídas. O método aplicado, chamado de tecnologia social, contraria essa coerência.

Fiz muito no CLJ que contrariou minha história de vida de jovem tímido e inseguro. Li em público, falei em público, dei palestras em público. Aprendi a tocar violão, ensinei a tocar violão, cantei, bati palmas e dancei. Liderei grupos de trabalho e coordenei retiros de três dias. Xinguei, fui xingado, magoei, fui magoado. Chorei e também vi muitos chorarem. Uns de alegria, outros de pura decepção. Levei alguns para participar do CLJ e conheci muitos amigos lá. Muitos mesmo. Gente de quem sou amigo até hoje. Vi gente crescer. Entrar novinho e verde como eu e ficar grande. Vi gente ensinar o que aprendeu. Vi gente abraçando desconhecidos e vi gente confidenciando segredos para um rosto que era um sorriso só. Vi a minha mudança e a de muita gente no CLJ.

Mais de três mil crianças e jovens já passaram pelo Canta Brasil desde o seu início há nove anos. Atualmente, são quase 600. Muitos hoje estão na faculdade, muitos fazem inglês, freqüentam academia. Muitos melhoraram seu aproveitamento no ensino fundamental e no ensino médio. Muitos outros permitiram que a ONG entrasse até em casa, envolvendo pais e irmãos na missão de ganhar dignidade e transformar a sociedade. No mínimo, da sociedade pequenininha da qual fazemos parte. Do nosso círculo de amigos e vizinhos. Alguns do Canta Brasil hoje são quase artistas. Cantam, dançam, compõem com gente famosa. Jovens que um dia foram beneficiados pela tecnologia social que os transformou. Levam adiante uma corrente do bem que não se paga, que não tem preço, mas que ao mesmo tempo muda destinos em uma sociedade movimentada pelo capital. “Aqui, a arte não os ensina apenas a serem artistas. Aprendem sobre disciplina, sobre ética, sobre cidadania, sobre auto-estima, sobre dignidade, sobre estética, sobre bons modos”, contou-nos uma das profissionais consultoras do Canta Brasil quando Jac e eu estivemos na Casa Azul. Como eu, eles também são enganados.

Durante seis ou sete anos fiz parte de uma sociedade paralela, que acontecia na maior parte do tempo nas tardes de sábado, em um salão paroquial de alguns poucos metros quadrados. Sempre disse isso pra mim mesmo e para alguns mais chegados. Porque o CLJ era uma sociedade, sim senhor. Para viver ali era preciso perdoar, era preciso não mudar de opinião, era preciso fazer diferente de todo mundo, para mostrar o verdadeiro valor de alguma coisa. Era preciso consolar, engolir sapos, entusiasmar, cantar e fazer silêncio, um profundo silêncio muitas vezes. Foi preciso valorizar as pessoas por mais que elas insistissem em mostrar novos defeitos, por mais que elas não tivessem a mesma opinião sempre, o mesmo comportamento que o meu. Também foi preciso fazer primeiro. Liderar pela palavra e liderar pelo exemplo. Tivemos que planejar muitas coisas e tivemos que riscar muita idéia no papel. Corremos muito para ficar tudo pronto, improvisamos e esquecemos de cumprir muita promessa. Vimos a sala sempre cheia e também a vimos com alguns gatos pingados. Valorizamos os que estavam e reclamamos da cadeira vazia. Vi muitos de quem eu gostava e até admirava deixar o CLJ. Tinham envelhecido ali e a vida os tirava de nós. Outros chegavam para continuar o trabalho. Vi o movimento se renovar exatamente dessa forma.

O que o Canta Brasil me fez lembrar do CLJ é que tanto o Canta Brasil quanto o CLJ são ferramentas de transformação social. Eu fui um transformado socialmente. Milhares de outros jovens que já passaram pelo CLJ também foram transformados. Hoje são professores, são médicos, são jornalistas, são advogados, são pais e mães de família, são padres, são empreendedores, são palestrantes, são criaturas humanas, são cidadãos. Como as crianças do Canta Brasil. Um movimento que trouxe do AfroReggae, do Rio de Janeiro, um jeito de fazer as coisas serem diferentes para os seres humanos. Sem cirurgia, sem penitenciária, sem cadeia, sem ganhar na megasena.

Por isso que, sem saber, eu e você, que já foi do CLJ, fomos enganados. Achamos que estávamos ali para aprender a rezar, para entender a importância do sete dons do Espírito Santo, do exemplo de Maria, a mãe de Jesus. Pensei que aquele curso lá no seminário de Viamão fosse para converter jovens e reforçar a fé deles em Jesus Cristo e na igreja católica. Pensei que me elegeram para coordenar o movimento ali da paróquia para fazê-lo crescer, para receber mais jovens, e para dar continuidade ao grupo. Que nada! Mesmo que hoje eu reze e que converse com o mesmo Jesus Cristo que me apresentaram um dia no CLJ, há mais de 12 anos, me sinto enganado. Um idiota.

Como o Canta Brasil também não existe apenas para formar artistas, o CLJ não nasceu para ensinar a rezar ou inflar as missas estado a fora. Mais do que participar de reuniões intermináveis, aprendemos a fazer gestão de pessoas; mais do que fazer silêncio, aprendemos a pensar na vida; mais do que fazer diferente, bolar uma coisa legal e escrever um texto que tocasse as pessoas, estávamos sendo pedagogos, publicitários, jornalistas, estávamos sendo criativos! Mais do que confira no pedido feito em silêncio na capelinha, aprendemos a valorizar a fé. Mais do que fazer primeiro, aprendemos a liderar.

O próximo sábado vai celebrar, com uma janta na paróquia Nossa Senhora das Graças, em Canoas, os 30 anos do Movimento Curso de Liderança Juvenil, o CLJ, dessa cidade. Mesmo não estando, todos as centenas de milhares de jovens que emprestaram parte de suas vidas a grupos do CLJ país afora estarão jantando conosco. Muitos de nós hoje, mesmo enganados, ludibriados, podemos olhar pro canto esquerdo de cima do olho, lembrar do tempo bom que não volta nunca mais e dizer, a si mesmo, com orgulho, que fez o mundo um pouco melhor porque nele viveu e porque por ele passará.



Paz e Bem

Shalom!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Uma nova geração

O Papa Bento XVI pediu hoje,15, mais uma vez a formação de uma nova geração de políticos católicos, coerentes com a fé e servidores do bem comum. Recebendo os participantes da Plenária do Pontifício Conselho para os Leigos, Bento XVI reiterou a necessidade e a urgência da formação evangélica e do acompanhamento pastoral de uma nova geração de católicos, mais engajada na política. Para o Papa, os novos políticos católicos devem ser:

"Coerentes com a fé professada, moralmente rigorosos, capazes de um juízo cultural, competentes profissionalmente, e devem também ser apaixonados pelo serviço em prol do bem comum".
Por sua vez, disse o Papa, os leigos devem dar testemunho de caridade, especialmente com os pobres, os sofredores, os mais carentes; e devem também assumir o compromisso cristão de construir condições de maior justiça e paz na convivência humana, abrindo novas fronteiras ao Evangelho.
"Peço ao Pontifício Conselho para is Leigos,acrescentou, que acompanhe com diligente zelo pastoral a formação, o testemunho e a colaboração dos fiéis leigos em todas as situações que colocam em risco a autêntica qualidade da vida humana na sociedade", acrescentou Bento XVI.
A este respeito, o pontífice citou a exortação apostólica 'Christifideles laici', de João Paulo II, relevando que "o grande trabalho na vinha do Senhor precisa de fiéis cristãos leigos, que, como a Santíssima Virgem Maria, digam e vivam o seu 'sim' ao desígnio de Deus, em suas vidas".
Em sua saudação ao Papa, o cardeal presidente do Pontifício Conselho para os Leigos, Stanislaw Rylko, havia nomeado o documento de Wojtyla, afirmando que "enquanto o desinteresse sempre foi inaceitável, hoje ele se tornou ainda mais culpado".
Entre as questões mais relevantes aos cuidados do Pontifício Conselho para os Leigos, está a questão da mulher, disse o Papa.
"Jamais será dito o suficiente para expressar o quanto a Igreja aprecie, reconheça e valorize a participação das mulheres em sua missão de serviço na difusão do Evangelho. Iguais em dignidade, o homem e a mulher são chamados a enriquecer-se mutuamente em comunhão e colaboração, não apenas no matrimônio e na família, mas também na sociedade, em todas as suas dimensões".
"Às mulheres cristãs, requer-se consciência e coragem para enfrentar tarefas exigentes, para as quais, todavia, contam com o apoio de uma destacada propensão à santidade, de uma perspicácia no discernimento das correntes culturais de nossos tempos, e da paixão especial ao cuidar do humano que a caracteriza", completou o pontífice.
O papel das mulheres na Igreja e na sociedade foi exaltado 20 anos atrás por João Paulo II, com a carta apostólica 'Mulieris dignitatem'. Esta manhã, Bento XVI exortou cardeais, bispos, sacerdotes e responsáveis de associações e movimentos laicais presentes na audiência a inspirar-se nela, em sua ação.

 Fonte: http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=271605


Paz e Bem

Shalom!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

E agora juventude?

Acabadas as eleições, sabemos em quem nossos olhos devem apontar quando quisermos saber quem faz as coisas que mudam nossa vida. Elegemos deputados, senadores, governadores e uma presidenta. A sorte está lançada. Serei sincero, eu esperava melhor sorte para a terra brasilis.

Saberemos, dentro de pouco tempo, se as promessas e posturas de campanha eram verdadeiras ou falsas. Saberemos agora qual é a ideologia dominante do ponto de vista político. E agora Brasil?

Passadas as eleições, a mim resta somente o apelo a sermos, nós jovens católicos , mais santos, mais convictos e mais ainda lideres cristãos. Sim! Lideres cristãos a iluminar o mundo, com a Luz emanada do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Durante a campanha para essas eleições houve, por parte da imprensa, a desvalorização de um tema recorrente. Muito se falou de aborto. A discussão, desvalorada pela imprensa, vai muito alem da questão do aborto e infiltra-se nas questões sócio-morais e no respeito aos valores inatos da sociedade brasileira. Se o Estado Brasileiro é laico, é ninguém em sã consciência pode dizer que não, a sociedade brasileira é cristã e profundamente marcada, formada, irrigada e esteada nos mais profundos valores cristãos. Desvalorizar isso, irmãos, é tão grave quanto dizer que o Estado Brasileiro é ateu. Atentem-se

Assim como a discussão, outro fenômeno dessas eleições foi a mobilização da força do apostolado leigo da Igreja Católica, que sem o apoio oficial dessa mesma Igreja, em seu órgão maior no Brasil, a CNBB, fez ressoar na mídia, principalmente na grande rede, a sua vocação à defesa dos valores cristãos em que fomos criados.

Se houve segundo turno,  não tenham duvida, isso ocorreu por que os cristãos se mobilizaram em demonstrar que não são força calada, não são massa de manobra e, nem sequer, uma juventude que bovinamente atende aos apelos da Teologia de Libertação. Devemos defender os valores que seguimos, é nossa função como apostolado leigo.

Os debates e lutas que podem vir não tem âmbito somente no aborto, mas em diversos fatores atinentes a moral e os valores cristãos. Por isso devemos, sem medo defender tais valores. Devemos refutar, sem dúvidas, qualquer argumento de que nosso argumento tem haver com a fé e por isso não valem. Não podemos nos calar. Devemos defender nossa fé. Não em armas, não em revolta, pois isso é coisa do passado, mas pela força da mídia que temos em mãos.

A mídia eletrônica é dominada por nós jovens que podemos fazer ressoar muito alto o nosso grito em defesa da luz do evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Não podemos calar-nos e aceitar quando dizem que nossos argumentos são sem valor. Jamais.

Nas palavras do Santo Padre, devemos ser apóstolos de jovens, defensores da Doutrina da Igreja Católica e mais, devemos ser assim, sal da terra e luz do mundo, fazendo saborosa a vida, nossa e dos outros e iluminando os confins desse nosso país continental.


Paz e Bem


Shalom!